ABANDONOS DE TRATAMENTO EM HOMEOPATIA: APENAS FALHA DO SIMILAR?

A imensa produção de livros e estudos publicados em revistas científicas à procura de vários protocolos ou mudanças de paradigmas repertoriais (Shakaran 2011 e Sholten )2-3, para apurar o diagnóstico constitucional, talvez seja um marcador desta mesma preocupação homeopática: a falha terapêutica medicamentosa.
Este artigo é um resumo de algumas medidas e contramedidas dirigidas à prevenção de erros no atendimento médico homeopático, levando a abandonos de tratamentos.
Já testadas nos últimos 12 anos, estas medidas e contramedidas contribuem para aumentar significativamente o controle do resultado das prescrições e o aumento da eficácia terapêutica. O Protocolo pode ser utilizado também em alopatia.

Introdução

A taxa de abandonos de tratamento diz respeito à percepção de eficácia da homeopatia. A percepção da população, pacientes que são indicados por outros e mesmo de relatos de casos bem sucedidos na literatura confirmam a boa performance da homeopatia.

Existe um trabalho interessante sobre abandonos de tratamento em alopatia e homeopatia1 que confirma a percepção da população de que a performance da homeopatia parece mesmo ser bem melhor que a da alopatia.

A nossa taxa de abandonos na prática médica usual, como este artigo pretende mostrar, não apresenta problemas de pouca monta para a Homeopatia.

Alguns trabalhos citam taxa de abandonos em alopatia de 65 a 85%, bastante superior às dos tratamentos homeopáticos (26%) e ambas felizmente inferiores ao tratamento com placebo (100%)1.

Teríamos algumas reservas sobre zero por cento de efeitos colaterais em homeopatia e cem por cento de abandonos  e efeitos colaterais no grupo placebo. Mas vamos nos ater às comparações, considerando-as aproximadas.

A Homeopatia promove maior adesão ao tratamento (74%) que a alopatia (15-35%), mas ainda assim, talvez poucos de nós estejamos preocupados indo em busca do número e das causas de abandonos de nossos pacientes. Ficamos confortáveis pelos sucessos “terapêuticos”, dos que continuam voltando aos nossos consultórios, atribuindo-os todos à homeopatia ou na melhor das hipóteses, dividimos a responsabilidade com os medicamentos alopáticos simultâneos.

A pesquisa de abandonos em minha clínica era de 31% em 2012. Por ter sido maior do que a média das encontradas entre outros homeopatas no artigo citado1 foi motivo de todo um trabalho desenvolvido nos últimos 12 anos, para desenvolver um algoritmo de medidas e contramedidas às pioras do tratamento, consideradas como hipóteses do abandono.

A procura de soluções na literatura homeopática contemporânea

A imensa produção de estudos publicados em revistas científicas e a procura de vários protocolos ou mudanças de paradigmas repertoriais (Shakaran 2011 e Sholten )2-3, para apurar o diagnóstico constitucional, talvez seja um marcador desta mesma preocupação homeopática: a falha terapêutica medicamentosa. Uma preocupação que revela a elogiável disposição de crítica à homeopatia Hahnemaneana, que de modo alguma viola, mas aprimora e aumenta o alcance de seus princípios terapêuticos.

Medidas e contramedidas de um protocolo para atendimento médico.

Durante a procura pelos motivos do abandono, realizada nos últimos 12 anos conseguimos perceber uma ampliação do espectro de erros ligados à pratica médica, homeopática e alopática. Estes erros constituíram durante estes anos, um check list de motivos de pioras primárias e secundárias que foram fundamentando o desenho de um protocolo de atendimento homeopático e organoterápico.4.

Dos 45 itens do check list que foi crescendo no decorrer dos anos, para compor um algoritmo de controle dos erros, 30 estavam ligados a medidas e contramedidas de controle de fatores externos à prescrição médica e 17 geraram medidas e contramedidas de controle da mesma. Vale assinalar que os fatores externos excedem os motivos conhecidos de noxas.

Alheios ao que acontece à sua prescrição antes e depois que o paciente entra no consultório, o médico fez sua obrigação ao continuar a atender os que retornavam, na maior parte das vezes sem se perguntar o motivo dos que abandonaram o tratamento. Os que não voltam, é certo, não fazem mais parte de sua responsabilidade.

Nega-se um problema, na maior parte das vezes, porque não se acredita numa solução ou ela é muito trabalhosa. Só quando o inconsciente percebe a solução, o consciente pára de negar o problema. É isto que acontece em todo “eureka” da ciência, ao levantar uma hipótese. Foi isto que movimentou a reconstrução do mundo no pós-guerra ou a ida do homem à lua.

Por isto continuei a acreditar que o problema tinha uma solução, que veio surpreendentemente, não só diminuir extremamente o abandono de pacientes de minha clínica, como permitir, sem que eu tenha procurado voluntariamente por isto, a melhora significativa de doenças consideradas incuráveis de qualquer natureza, mas especialmente as mais difíceis, neurológicas6 ou degenerativas ósseas7.

Não é escopo deste artigo descrever o protocolo que surgiu da identificação destas 47 variáveis que controlam a prática médica e que tiram do médico alopata ou homeopata, o controle sobre suas prescrições. Elas já estão sob a forma de um algoritmo, detalhadamente descritas em livros4.

Este algoritmo surgiu nos últimos 12 anos, do atendimento homeopático do Medicamento Constitucional/Organoterápicos, em mais de 300 parkinsonianos e em 5% de casos de Esclerose Múltipla ou Alzheimer.

Mas a título de exemplo, publicaremos apenas 1 medida e contramedida de responsabilidade do médico. Existe outra medida e contramedida dos pacientes e entorno, que serão assunto para outro artigo e já está também publicada4. A medida e contramedida do médico lhe restaura o controle sobre o efeito do medicamento homeopático e além dele o controle das potências corretas.

A Planilha de Espaçamento de doses alopáticas com o aumento simultâneo das potências homeopáticas.

O medicamento homeopático registra com frequência, a associação às vezes de 10 a 15 medicamentos alopáticos simultâneos, na 1ª consulta homeopática de nossos pacientes adultos e idosos. Cada medicamento é prescrito pelo especialista, para cada uma das co-morbidades do paciente.

1-Paco
2-Losartana 50mg
3-Atenolol 25mg
4-Vaslip 20mg
5-Addera
6-Aerolim spray 50mcg
7-AAS 100mg
8-Novanlo 2,5mg
9-Losartana 50mg
10-Hidroclorotiazida 25mg
11-Sinvastatina 20mg
12-Glifage de 500mg
13-Nesina 25
14-Insulina nph 16 U 8h e 6 U 22h.
15-Prolopa 250/50 mg
16-Azilect

Como identificar “que medicamento faz o quê” nos sintomas dos pacientes homeopáticos? Como saber que sintomas são constitucionais e quais são apenas efeitos colaterais de medicamentos?

Como aproveitar os interessantes e diferentes paradigmas repertoriais de Shankaran2 e Sholten3 nesta parafernália de sintomas medicamentosos?  Existe já publicada7 uma interessante proposta para empregar os fármacos modernos, segundo o princípio da similitude terapêutica. A idéia seria aproveitar patogenesias das bulas de medicamentos alopáticos, entendendo-as como efeito rebote curativo (reação vital) do organismo, através da administração das mesmas substâncias (em doses ultradiluídas), que deste modo inverteriam seus efeitos primários em estado bruto7.

Estaríamos assim compreendendo os efeitos colaterais exibidos em bulas alopáticas como patogenesias capazes de inverter seu efeito e curar os sintomas já estudados pelos laboratórios, inclusive na frequência de seu aparecimento nas fases de 1 a 5 das pesquisas. Veremos na exposição abaixo, a exibição de apenas uma das 45 contra medidas, chamada de  Planilha de Espaçamento. Seu objetivo é separar o efeito de remédios homeopáticos e alopáticos com mesmas finalidades funcionais e orgânicas.

Ela agirá então como uma contramedida à ausência da medida preventiva de isolamento do efeito de cada medicamento com mesma funcionalidade, antes da prescrição homeopática.

Esta planilha foi bastante testada durante os últimos 2 anos e se mostrou bastante eficaz para isolar efeitos de qualquer medicamento, de outro que possa ter sobreposição de funções no mesmo paciente.

O método utilizado na planilha tem 2 pressupostos:

1-ela se baseia no conceito farmacológico de meia vida dos produtos ativos alopáticos e da meia vida das potências homeopáticas.

2-utiliza o objetivo de retirada de alopáticos, associada ao aumento simultâneo de potências homeopáticas, como dispositivo que  permite determinar o melhor ritmo de diminuição de alopáticos. Isto é conseguido através dos marcadores de eficácia da associação alo e homeopática, dos sintomas mais intensos da patologia principal, enquanto não se atinge a potência homeopática ótima. Quando alcançada, ela indica ao mesmo tempo a alta do paciente e a suspensão total dos alopáticos. Este recurso permite um grande conforto ao paciente, que fica sempre protegido por doses alopáticas decrescentes, tendo em vista que a duração de cada potência aumentada. pode ser de 60 e às vezes 180 dias.

Temos em cada consulta e em cada momento evolutivo do tratamento a resposta simultânea às 2 perguntas: quando o medicamento alopático não for mais necessário (desaparecimento total de sintomas intensos e depois moderados e leves, nas 24 hs) é porque não há mais necessidade de aumentar as potências homeopáticas. E podemos nos tranquilizar porque até este momento, não terão ocorrido pioras primárias e secundárias nos sintomas de cada um dos medicamentos, pelo risco de excesso de doses.

Funcionamento da planilha de espaçamento4:

Vídeo que explica a planilha de espaçamento de forma dinâmica e é encaminhado aos pacientes para facilitar a compreensão da mesma:   https://youtu.be/rIScGpaOARY

No caso de doenças degenerativas graves como Parkinson, a maioria dos estudos, mostra um controle da doença não superior a 40%. Como conseguimos 91 %[(CI 95percentage) (60%–98%)] 85% [(CI 95%) (53%–96%)]8  de controle com o tratamento organoterápico associado ao constitucional, em mais de 300 parkinsonianos nos últimos 12 anos, podemos ver que, após atingir o limite possível de controle alopático para Parkinson, as melhoras adicionais se devem ao tratamento homeopático (estando garantido o controle das 47 variáveis de confundimento do protocolo).

A capacidade de melhora alopática final é vista nos 10 dias de ajustes dos scores de zero a 4 na ficha evolutiva, obtidas antes da 1ª prescrição homeopática (uma das 17 medidas do médico).

Após vários e sucessivos aumentos de potências homeopáticas, com melhoras sucessivas das médias dos sintomas da doença, elas de repente podem começar a piorar. É nesta hora que a técnica da planilha pode descobrir se o problema está no excesso de alopáticos ou de potência homeopática para aquela doença, (no nosso exemplo, a Doença de Parkinson). A planilha de espaçamento controla, portanto, uma das 17 medidas e contramedidas (do médico) do protocolo de atendimento4. Já mencionamos que existem outras 30 medidas e contramedidas do protocolo para pacientes e familiares4.

A resposta é um paradoxo. O paciente pode estar começando a piorar as médias dos scores de zero a 4 dos sintomas, porque começou a melhorar com o aumento de potência homeopática da última dose, para além dos 30-40% de melhoras médias dos medicamentos alopáticos para Parkinson (por ex.). A melhora homeopática produz a situação de “excesso relativo de dose dos alopáticos”, que a doença já não mais necessita funcionalmente, pois tem a cobertura do efeito não só funcional, mas energético, do medicamento homeopático. É como se as vidas médias dos medicamentos alopáticos simulassem um aumento do tempo de duração do medicamento, pela melhora produzida pelo aumento funcional e energético, da última potência do medicamento homeopático.

Esta mesma situação, mas provocando piora e não melhora, pode ocorrer por outro motivo: quando os sintomas intensos demandam um espaçamento ou encurtamento de doses alopáticas, que não são obedecidos pelo paciente. Ou seja, a doença está melhor com por ex.10 hs da vida média do medicamento alopático, mas o paciente toma a dose num horário mais curto, por ex. com 8 hs de intervalo e as doses se sobrepõem neste intervalo causando um excesso de dose, que produz uma “patogenesia” do medicamento alopático, aumentando o número de horas de sintomas intensos nas 12 hs do dia acordado. Isto provoca então uma piora primária, por aumento desnecessário das doses alopáticas. O contrário ocorre por outro lado, quando o horário onde a vida média do medicamento alopático terminaria antes, mas é “estendida” pela ação do medicamento homeopático, melhorando não só o número de horas nas 12 hs. acordado, mas também colaborando para a retirada do medicamento alopático, após 12 hs de espaçamento da última dose. No ultimo horário do dia, é indicada a supressão do último horário das tomadas, o que diminui o ultimo comprimido do dia. O paciente melhora então com o aumento das potências homeopáticas e a retirada gradual dos horários diurnos das doses alopáticas.

Nas 2 situações, a planilha evidencia que o paciente já não precisa da mesma quantidade inicial de alopáticos, porque a melhora o substituiu adequadamente pelo homeopático.

Quando o paciente faz a planilha corretamente e as potências homeopáticas são aumentadas sucessivamente, em determinado momento, os sintomas intensos passam a não existir mais. Passamos para uma fase de ajuste, em que o que passa a orientar os horários de tomadas passa ser a do aparecimento de sintomas moderados e depois de também desaparecidos, os leves. A permanência de um dos 3 tipos de sintomas, dá ao mesmo tempo uma outra informação importante:  indicam que há ainda necessidade de repetição (existência apenas de sintomas leves) ou aumento das potências homeopáticas (existência de sintomas moderados ou intensos).

Aguardar a tomada dos medicamentos alopáticos prescritos para os sintomas de cada doença, para toma-los apenas nos horários do dia, em que aparecem sintomas intensos, equivale a ficar cada vez mais tempo sem o medicamento durante as 12 horas acordado, durante o dia, à medida em que vão aumentando as melhoras homeopáticas. Este método se mostrou mais eficaz do que partir comprimidos ou diminuir gotas. As tomadas de todos os medicamentos juntos, para cada doença ou órgão afetado, devem ser feitas no mesmo horário. (Existem exceções para medicamentos de liberação lenta). O que observamos é que os pacientes que estão com excesso de alopáticos devido às melhoras homeopáticas, vão naturalmente espaçando as tomadas de todos os medicamentos até um último horário convencionado, as 19 ou 21 hs. O horário do dia, que espaçado continuamente, chega até este último horário, é expulso das tomadas diárias e assim por diante, até a expulsão gradual de todos os demais horários de comprimidos (gotas ou adesivos) alopáticos, pela dosagem ótima da potência homeopática.

Este espaçamento de doses diárias demandadas pelos sintomas intensos permite o ajuste de doses de qualquer medicamento alopático em relação aos prescritos por outro especialista, para outro grupo de sintomas do paciente. Apesar de preparados de formas diferentes, os medicamentos alo e homeopáticos agem sobre os mesmos sintomas dos órgãos para o qual se destinam. Vários medicamentos alopáticos têm efeitos primários ou colaterais, sobre sintomas comuns. E o especialista que não souber se o efeito colateral é do medicamento que ele prescreveu, está tratando de sintomas produzidos por medicamentos que ele não prescreveu e que não serão sensíveis a mudanças de doses, do medicamento que pode controlar. Se não ajustar as doses de ambos por este método de espaçamento ou qualquer outro, estará prescrevendo para piorar o paciente, como ocorre muito frequentemente, tanto com alo como com homeopatas.

Com o controle do efeito isolado de cada grupo de medicamento alopático e seu similar homeopático para a mesma finalidade e utilizando a planilha de espaçamento, poderemos ir gradualmente:

1-Espaçando os horários dos alopáticos até a retirada do primeiro horário do dia quando ele atingir 12 hs de espaçamento.

2-Identificar o momento em que o paciente não mais necessita de medicações alopáticas

3-Identificar o momento em que o paciente não mais necessitará de aumentos de potências homeopáticas.

Com o controle das pioras primárias e secundárias que ocorrem por excesso de doses alopáticas/potências homeopáticas teremos aplicado uma das 17 contramedidas de prevenção e tratamento de pioras, que provocam abandonos de tratamento homeopático.

Esta planilha servirá para os especialistas fazerem o mesmo e assim conhecerem o efeito real de suas prescrições, quando associadas ao tratamento homeopático.

Se não valorizarem  os efeitos da homeopatia em seus pacientes homeopatizados estarão prescrevendo sempre no sentido de produzir mais efeitos colaterais do que melhoras dos sintomas originais. Ou seja, estarão atirando no que vêm e errando no que não vêm.

Bibliografia

1-R.G. Gibson, Sheila L.M. GibsonA.D. MacNeill, W. Watson Buchsanan. Homœopathic therapy in rheumatoid arthritis: BrJ clin Pharm 1980; 9:453-59 148. Reprinted in The British Homoeopathic Journal (2)

2–Sankaran, R..A Sensação em Homeopatia. São Paulo; Editora Organon; 2010.

3-Sholten, Jan. Homeopatia e os elementos. São Paulo; Organon; 2011. 902 p.

4-HORTA, I. . Protocolo para Organoterapia. Seattle, Washington: Independently Published, 2021.

5- HORTA, I. Doenças Neurológicas graves-36 casos. Videos evolutivos. Seattle, Washington: Independently Published, 2021.

6- HORTA, I. Dor Cronica e Organoterápicos-30 casos. Videos evolutivos. Seattle, Washington: Independently Published, 2021.

7- Zulian, M. Fundamentação Científica do princípio científico da Farmacologia moderna. Seatle, Washington: Independently Published, 2021. 2950 p

8-Horta, I. Parkinson Disease treated with Constitutional Medicine and Brain´s organotherapics: a forty-one (41) patients report. International Journal of Innovative Science and Research Technology(IJISRT). Volume 6 – 2021 – Issue 5 – May.

HORTA, I.  Estudo Prospectivo Observacional de serie de casos de dor cronica tratados com organoterápicos associados`ao Medicamento Constitucional. Revista de Homeopatia 2012; 75 (1): 1-13

Link promocional dos livros:

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